Odontologia em Tranplante de Medula Óssea
Em todo o mundo, são realizados 50 mil transplantes de medula óssea por ano. Segundo a Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), no Brasil este número foi de 1753 no ano de 2012, sendo 35 realizados no Rio Grande do Norte.
No primeiro semestre de 2013 foram realizados 843 transplantes de medula no Brasil, sendo 26 no Rio Grande do Norte.
Nosso estado se encontra em 4º lugar na realização do transplante alogênico, de maior complexidade.
O transplante de medula óssea ou transplante de células tronco hematopoiéticas é um procedimento médico indicado para o tratamento de doenças linfoproliferativas, mieloproliferativas, hemoglobinopatias, alguns tumores sólidos e algumas doenças autoimunes. Esta área da medicina é interessante para o Cirurgião Dentista, pois algumas manifestações orais podem ser as primeiros sinais da doença. Além disso, os pacientes em preparo para transplante são submetidos a um condicionamento com quimioterapia, às vezes associada à radioterapia, que em 75% a 99% dos casos provoca mucosite oral. Esta alteração é caracterizada por úlceras dolorosas que podem surgir em todo o trato gastrointestinal e nas regiões não ceratinizadas da boca, constituindo uma porta de entrada para microrganismos. Outro efeito deste tratamento é o comprometimento da imunidade, portanto existe grande risco de que as infecções orais evoluam em maiores proporções.
A higiene oral deficiente associada à redução do fluxo salivar, deficiência de imunoglobulinas e alterações nas propriedades bioquímicas da saliva contribui para o aparecimento de cáries. O uso de inibidores de calcineurina pode provocar hiperplasia gengival e exacerbar infecções periodontais. Também pode haver alteração do paladar como resultado da hipossalivação, da citotoxicidade dos quimioterápicos e de efeitos adversos de outros medicamentos.
O trabalho preventivo do Cirurgião Dentista inserido e participante da equipe multidisciplinar na fase pré-transplante consiste em diagnosticar e remover focos infecciosos (dentes cariados sem indicação de restauração, dentes envolvidos em periodontite e dentes que podem causar pericoronarite) pelo menos duas semanas antes do início da quimioterapia.
Há evidências científicas de que a remoção de focos infecciosos através de restaurações, tratamento periodontal, extração de dentes com risco de infecção, uso de solução de clorexidina 0,12% associada à instrução de higiene oral, reduz a incidência e a gravidade da mucosite oral e os episódios de febre e pneumonia aspirativa. O risco de complicações orais cai de 40% para 12%. Estes pacientes estão em nossos consultórios e precisam de nossos cuidados.
É importante que a Odontologia esteja familiarizada com os pacientes onco-hematológicos e as condições pertinentes a este grupo de pacientes. Dessa maneira, exercerá com excelência o seu papel na equipe multidisciplinar de saúde, satisfazendo as necessidades destes pacientes e colaborando com seu conhecimento e técnicas para o bom andamento do tratamento contra o câncer.