Odontologia X Coronavírus: qual o novo cenário?
Se dividirmos um milímetro em um milhão de partes, chegaremos mais ou menos ao tamanho do SARS-CoV-2.
Antes dele, outros seis vírus da mesma família afetaram os seres humanos, mas nenhum possuía tanta agressividade e velocidade de reprodução como esse primo mais jovem.
Com a força da globalização, embarcou na China em novembro, cruzou Ásia e Europa deixando seu rastro pernicioso, o que lhe rendeu prestígio internacional em janeiro.
Em março, sua turnê atingiu o máximo e desembarcou no aeroporto de São Gonçalo do Amarante.
Menosprezado como “gripezinha” pelo barbeiro Porfírio contemporâneo, o vírus não demorou a mostrar a que veio.
Lamentamos afirmar que o visitante faz parte, desde então, da vida de milhões de potiguares que temem encontrá-lo por aí a esmo.
Faz parte da vida de 304 pessoas oficialmente infectadas e das famílias de 16 potiguares que deixaram eternas saudades (segundo SESAP/RN às 07:00h de 13/4/2020).
Encontraremos em breve as ruas cheias de pessoas novamente, retornaremos às nossas atividades e aos nossos atendimentos eletivos, mas o mundo não será mais o mesmo.
O “mundo odonto” será diferente de como nós o conhecíamos em tempos considerados normais até um dia desses. Somos testemunhas de um ponto de mutação na história da Odontologia.
Caminhamos para o aprofundamento grave de uma crise que expõe as nossas fraquezas e que nos desafia a aprender o valor da coletividade, do protagonismo de nossas entidades, o valor do Sistema Único de Saúde, da pesquisa científica e do investimento nas Universidades, das verdadeiras necessidades humanas, da solidariedade e do pertencimento. Mas ressurgiremos!
Em toda a nossa história, sempre após uma decadência, vivemos grandes transformações.
Vivemos hoje o temor e o distanciamento social para desacelerar a propagação do vírus; adaptamos transformações em nosso modo de trabalhar e o uso de novos equipamentos de proteção, distantes até então do cotidiano de muitos profissionais; buscamos conhecimento e apoio para sustentar nossa liberdade e nossa segurança.
Amanhã viveremos a esperança, em um processo natural de sobrevivência e adaptação, aguardando dias melhores.
Breve virá o renascimento com mais responsabilidade e mais segurança em nossos procedimentos.
Breve virá um roteiro que não perdoará improvisações, que exigirá mais responsabilidade e clareza do papel da Odontologia com um novo elenco de profissionais de saúde, em um novo cenário que está sendo desenhado pela história.
José Endrigo Tinôco, cirurgião-dentista e presidente da Comissão de Odontologia Hospitalar do CRO-RN
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