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Crianças com fissuras da Operação Sorriso extraíram dentes de leite para pesquisa com células-tronco

Crianças com fissuras da Operação Sorriso extraíram dentes de leite para pesquisa com células-tronco
Garoto Luis Davi foi uma das crianças que selecionadas para congelamento de células-tronco

Crianças selecionadas pela equipe de Odontologia da Operação Sorriso, missão Mossoró, liderada pela cirurgiã-dentista e cientista Daniela Bueno, de São Paulo, tiveram seus dentes de leite extraídos para pesquisas com células-tronco.

A Operação Sorriso Mossoró, realizada no período de 4 a 7 de agosto, fez 68 procedimentos cirúrgicos em 53 pessoas, a maioria com fissuras labiopalatinas, de um total de 106 pessoas que passaram pela triagem, entre crianças, jovens e adultos de Mossoró e municípios do Rio Grande do Norte, Paraíba e Ceará.

Segundo a diretora Executiva da Operação Sorriso, Ana Stabel, o trabalho dessa organização não governamental de ajuda humanitária internacional, com 19 anos de atuação no Brasil, não se restringe apenas as cirurgias de lábio e palato em crianças e adultos, mas também realiza pesquisas com sua equipe multidisciplinar formada por voluntários como dentistas, médicos, fonoaudiólogos, geneticistas, psicólogos, enfermeiros entre outros profissionais da área da saúde.

A odontopediatra e pesquisadora do R-CRIO, instituição parceira da Operação Sorriso, com sua equipe de dentistas presentes em Mossoró, selecionou quatro pacientes com idades entre 3 e 14 anos que ainda tinham dentes de leite para pesquisas de células-tronco.

Até o final deste ano, um total de 15 crianças das missões da Operação Brasil 2016 terão as células-tronco da polpa do dente de leite congeladas.

As crianças da missão Mossoró foram as primeiras a terem suas células-troncos retiradas para congelamento.

Os selecionados foram Luis Davi, de 3 anos, que além da anomalia de fissuras no lábio e no palato, nasceu sem os membros superiores; Rodrigo, de 14 anos, que ainda tem dentes de leite; além de Alan, 11 anos, e Antônio, 10 anos.

A equipe de Odontologia da Operação Sorriso, coordenada pela doutora Daniela, durante a triagem das crianças fissuradas, examinou as 106 pessoas inscritas para a missão. E entre as crianças na faixa etária com dente de leite, a equipe selecionou quatro mais aptas para a extração do dente para congelar suas células-tronco.

Segundo a pesquisadora Daniela, a seleção se baseou nas condições ortodônticas, características do defeito ósseo e condições de saúde bucal. “Os dentes de leite não podem estar cariados”, explica.

O menino Luis Davi, morador em Alexandria, interior do Rio Grande do Norte, foi um dos selecionados devido suas características, que além de fissurado, nasceu sem os membros superiores.

A Operação Sorriso e R-Crio, segundo Daniela, ao realizar a criopreservação das células-tronco do garoto, tem o objetivo de proporcionar a ele no futuro a oportunidade de usufruir dos benefícios da medicina regenerativa.

“Existem inúmeros estudos clínicos em andamento que devem ser concluídos nos próximos anos. Nós estamos garantindo a matéria-prima para que o Luís Davi possa se valer dos avanços da ciência, no futuro”, explica José Ricardo Muniz Ferreira, presidente da R-Crio, que assim como Daniela, também é dentista e foi voluntário na missão Mossoró.

Os dentinhos extraídos das crianças da Missão Mossoró foram enviados para congelamento no laboratório da R-Crio, em Campinas (SP).

Segundo os pesquisadores, as células-tronco extraídas da polpa dos dentes de leite têm potencial para depois se transformarem em diversos tecidos humanos, como osso, cartilagem, pele, músculo, entre outros.

Com suas células-tronco criopreservadas de maneira gratuita, os pesquisadores explicam que no futuro estas crianças poderão utilizá-las para corrigir a fenda palatina, já que uma nova tecnologia de tratamento das fissuras está em desenvolvimento. Ou seja, quando for aprovada, os quatro garotos do Rio Grande do Norte poderão ser beneficiados.

As criopreservações consistem em congelar as células-tronco a 196 graus negativos, em tanques de nitrogênio líquido.

Além de Mossoró, a Operação Sorriso este ano ainda vai ter missões em Santarém (PA), entre os dias 5 e 10 de setembro, e Porto Velho (RO), no período de 7 a 10 de dezembro.

“A Operação Sorriso é uma experiência transformadora, e mostra que para cada diferente frente existem pessoas dispostas a ajudar a construir um mundo melhor. A grande estrela é o projeto em si”, diz José Ricardo.

E destacou que “foi nossa consultora científica, a doutora Daniela Bueno, que trouxe a oportunidade da R-Crio poder se envolver com um projeto social dessa magnitude”.

Para o presidente da R-Crio, “o projeto é uma porta só de entrada: a gente não quer sair”.

A empresa de pesquisa recebeu uma placa de menção honrosa da Operação Sorriso na realização da missão Mossoró.

“Sou membro do conselho da Operação Sorriso e tenho muita gratidão por fazer parte do projeto. Conheci pessoas incríveis e a oportunidade de ajudar mostra que a solidariedade faz toda a diferença neste tipo de iniciativa humanitária”, afirma Daniela Bueno.

SENSIBILIDADE PARA ACOLHER

Pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-Libanês, odontopediatra do Hospital Municipal Menino Jesus de São Paulo e doutora em genética humana pela Universidade de São Paulo, Daniela no dia da triagem em Mossoró, em frente ao Centro Clínico  Prof Vingt Un Rosado, não teve dúvida em sentar na calçada para conversar com o menino fissurado Francisco Estevan Antero da Silva, 13 anos, que envergonhado, baixava a cabeça para esconder sua anomalia.

Num ato de sensibilidade, a doutora Daniela acolheu o menino, que estava na triagem acompanhado da avó Cosma Nunes, 67 anos, de Marisópolis, Paraíba, distante 260 km de Mossoró.

A avó contou que a filha abandonou o filho em sua casa quando ele nasceu. A partir dos primeiros meses de vida do bebê, ela começou a sua via-cruzes para tentar fazer a cirurgia no menino.

Só agora, depois de 13 anos, a avó conseguiu realizar o seu sonho de ver o neto com a fissura fechada, graças também a ajuda da enfermeira voluntária da Operação Sorriso, Rogéria, que trabalha na Samu de Natal, mas também é de Marisópolis. Rogéria falou da missão Mossoró e dona Cosma levou o neto para a triagem.

O menino foi um dos 53 selecionados para as cirurgias de lábio e palato. Fez a cirurgia e depois retornou para Marisópolis, já com o cabelo cortado. Ele chegou cabeludo em Mossoró e a avó contou que era uma promessa, que só iria cortar o cabelo do neto depois que conseguisse a cirurgia para o neto.

O corte do cabelo aconteceu no dia da revisão, que aconteceu no dia 10 de agosto, quando uma equipe da Operação Sorriso fez uma avaliação dos pacientes. O menino voltou para o alojamento da Policia Militar, onde ficaram as famílias dos pacientes. Ante de deixar o abrigo, a avó cortou o cabelo do neto e seguiu viagem de retorno para Marisópolis, feliz com a cirurgia e com o atendimento que teve de todos da Operação Sorriso.

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