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CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A ODONTOLOGIA

CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE E A ODONTOLOGIA

A partir de 1920, influenciado pelas escolas européias de vanguarda, surge no Brasil um movimento que se denominou de Modernismo. Os Modernistas incluíram em nossa poesia o verso livre e basearam-se na realidade nacional e na exaltação do pensamento moderno. A Semana da Arte Moderna, em 1922, inaugurou esta nova fase estética. Drummond foi um dos seus expoentes, tornando-se mais tarde um dos maiores poetas brasileiro contemporâneo.

Nasceu no dia 31 de outubro de 1902, Itabira/MG, e faleceu em 17 de agosto de 1987, na cidade do Rio de Janeiro/RJ. Formado em farmácia, durante a maior parte da vida foi funcionário público, embora tenha começado a escrever cedo e prosseguido durante toda a sua existência. Além da poesia, produziu livros infantis, crônicas e contos, fiel às suas mineiríssimas matrizes de humor e coloquiaquilismo. Entre seus livros de poesia: Brejos da Alma, Alguma Poesia, Sentimento do Mundo, Poesias, A Rosa do Povo, Poesia até Agora, Claro Enigma, Viola de Bolso, Fazendeiro do Ar, Poemas, Antologia Poética, Lição de Coisas, Boitempo, Reunião, As impurezas do Branco, Menino Antigo, Discurso de Primavera, Esquecer para Lembrar, A Paixão Medida, Amar se Aprende Amando.

No seu livro Amar se Aprende Amando (poesia de convívio e de humor), temos O Mundo é Grande:

O mundo é grande e cabe

nesta janela sobre o mar.

O mar é grande e cabe

na cama e no colchão de amar.

O amor é grande e cabe

no breve espaço de beijar

A “Revista Paulista de Cirurgião-Dentista” publicou a poesia de Drummond: Dentaduras Duplas.

“Dentaduras duplas!

Inda não sou bem velho para merecer-vos...

Há que contentar-me com uma ponte móvel e esparsas coroas.

(Coroas sem reino, os reinos protéticos de onde viestes quando produzirão

a tripla dentadura, dentadura múltipla, a serra mecânica, sempre desejada,

jamais possuída, que acabará com o tédio da boca, a boca que beija,

a boca romântica? ... )

Resovin! Helocite!

Nomes de países? Fantasmas femininos?

Nunca: dentaduras, engenhos modernos,

práticos, higiênicos, a vida habitável:

a boca que morde, os delirantes lábios

apenas entreabertos num sorriso técnico

e a língua especiosa através dos dentes

buscando outra língua, afinal sossegada...

A serra mecânica não tritura amor.

E todos os dentes extraídos sem dor.

E a boca liberta das funções poético-

sofístico-dramáticas de que rezam filmes

e velhos autores.

Dentaduras duplas!

Dai-me enfim a calma que Bilac não teve

para envelhecer.

Triturarei convosco doces alimentos,

serei casto, sóbrio, não vos aplicarei

na deleitação convulsa de uma carne triste

em que tantas vezes eu me perdi.

Largas dentaduras, vosso riso largo

me consolará não sei quantas fomes

ferozes, secretas no fundo de mim.

Não sei quantas fomes jamais compensadas.

Dentaduras brancas, antes amarelas

e por que não cromadas e por que não de âmbar?

De âmbar! De âmbar!

fantásticas dentaduras, admiráveis presas,

mastigando lestas e indiferentes

a carne da vida!”

 
Lenilson Carvalho
Cirurgião-Dentista e Escritor

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