Secretário de Saúde de Natal recebe presidentes do CRO-RN e SOERN antes da posse
Para discutir a atual situação da odontologia na rede pública de Natal e apresentar algumas reivindicações da categoria, os representantes do CRO-RN e do SOERN estiveram reunidos na última quinta-feira, 27 de dezembro, com médico Cipriano Maia de Vasconcelos, o secretário de Saúde do Município na futura gestão do prefeito eleito Carlos Eduardo Alves.
Além dos presidentes do CRO-RN e SOERN, Jaldir Cortez e Ivan Tavares, respectivamente, participaram do encontro com o novo secretário de Saúde de Natal o conselheiro Federal, Eimar Lopes, o conselheiro Gláucio de Morais e Silva, o vice-presidente do sindicato, Edson Cirilo, e as diretoras Teresa Neumann e Ana Estela.
O presidente do SOERN expôs ao secretário a situação da odontologia na rede pública municipal e entregou um documento de um levantamento realizado no inicio deste ano que indicavam que mais de 60% das unidades básicas estavam sem atendimento odontológico por problemas na parte física ou de falta de materiais.
Depois, Ivan Tavares discutiu a reestruturação da rede básica; a reestatização da rede com a realização de concursos, reorganização dos prontos-socorros, principalmente do Centro Odontológico Morton Mariz, no bairro da Ribeira, bem como a reorganização e reativação da mesa municipal de negociação salarial.
O presidente do SOERN aproveitou o encontro para saber como o novo secretário de Saúde vai se relacionar com as entidades sindicais e sua autonomia na pasta em relação ao Executivo, bem como a relação dele com o Conselho Municipal de Saúde.
Outros temas abordados foram eleições diretas para diretores de postos e a possível liberação dos profissionais de saúde bucal para especializações e cursos de aperfeiçoamentos.
Sobre a situação do Centro Odontológico Morton Mariz, o presidente do SOERN e o conselheiro Federal Eimar Lopes, plantonista nesta unidade, chamaram a atenção do novo secretário de Saúde para que o município possa deixá-lo em condições para atender a população que recorre aos serviços ali prestados, como as urgências e emergências.
"Uma menina de 12 anos chegou ao Walfredo Gurgel com um abscesso enorme porque o atendimento básico não funciona. Não temos onde drenar estes pacientes. Termina na traqueostomia com mais 25 dias de antibiótico, por falta de uma simples consulta", relatou o presidente do SOERN, buco maxilo facial que dá plantão pronto socorro do Hospital Walfredo Gurgel.
Eimar e Ivan também denunciaram as péssimas condições do piso colocado na unidade após a reforma do Centro Odontológico, que ficou fechado durante dois anos na administração Micarla de Sousa, mas que já estava deteriorado na gestão anterior do prefeito eleito.
"Lá só tem uma caneta funcionando, das 26 que existem. O Morton é o que há de melhor em odontologia pública do Rio Grande do Norte e nossa opinião é que ao iniciar a reestruturação, a secretaria dê prioridade ao Morton, porque esta unidade funcionando, pelo menos, dor de dente passará a não existir em Natal”, disse Ivan.
O presidente do SOERN também tocou na questão da reorganização do plano de carreira, mantendo a isonomia salarial dos profissionais do mesmo nível. "No meu ponto de vista, no âmbito estatal, não se pode haver diferença salarial para profissionais do mesmo nível", disse.
O presidente do CRO-RN expressou a sua indignação com o desmonte da rede básica na administração Micarla de Sousa, chamando a atenção para a má gestão do dinheiro público. "Estão invertendo a lógica da atenção básica. Os procedimentos básicos não foram priorizados nesta gestão, ocasionando um acúmulo de problemas para outros níveis de atenção. É o dinheiro público indo para o ralo", afirmou Cortez.
O conselheiro Federal parabenizou o secretário pela sua indicação para a pasta e classificou de um “ato de bravura” sua aceitação para “reconstruir a Saúde do município de Natal”.
“O ponto fundamental desse nosso encontro é tentar fazer uma espécie de parceria de gestão, tentar reconstruir, palavra que será a base dessa gestão", afirmou Lopes, ex-presidente do CRO-RN por três gestões.
Para o conselheiro Federal, o retrato do Morton Mariz não é diferente do da Cidade. Ele se mostrou preocupado com a atual situação da maior unidade odontológica do Estado. Segundo ele, a unidade não tem manutenção em seus equipamentos e um dos raios X foi recolhido porque estava quebrado e não foi substituindo.
"Preocupa-me muito porque esta é a maior unidade de odontologia pública do Estado. Além de ser a maior, não tem os mesmos moldes do SUS, do ponto de vista positivo. Temos uma estrutura de média, bem próxima da alta complexidade da odontologia", explicou.
Atualmente, o Morton Mariz atende apenas com 20% da capacidade. Segundo Eimar, quando estava funcionando normamente, a unidade atendia cerca de oito mil pessoas por mês.
Depois de ouvir atentamente os participantes do encontro, o secretário de Saúde indicado reconheceu que vai ter muito trabalho pela frente, e concordou com o conselheiro Federal que Natal vai ter que “reconstruir” toda a sua rede básica de saúde.
Cipriano Maia foi claro e objetivo, afirmando que sabe que a situação da saúde é grave e não existem milagres. Segundo ele, a grande preocupação do prefeito e dele mesmo é fazer voltar a funcionar o atendimento nas unidades fechadas.
"A odontologia está sem contrato de manutenção desde maio. Não foi aberto novo pedido de licitação. Nossa ideia é fazer um contrato emergencial para dar legitimidade ao contrato e para isso esperamos contar com apoio de vocês. Vamos convocar o Ministério Público para que tudo ocorra de forma transparente. Esperamos superar esse gargalo e depois chamar o pessoal ao trabalho", afirmou Cipriano.
O futuro secretário também deixou claro que na sua gestão vai cobrar horário de trabalho de todos os servidores e quer o apoio deles para restabelecer o atendimento na rede básica. "Todos vão ter que cumprir o horário acertado em contrato de trabalho. Para fortalecer toda essa perspectiva de gestão, vamos buscar dar transparência a todos os atos, reinstalar a mesa de negociação, reinstalar os conselhos de saúde e participar. Vou propor ao conselho a implantação de uma ouvidoria", disse Cipriano.
“Vamos fazer um planejamento baseado em resultados. Nosso compromisso é de trabalhar intensamente para enfrentar os atuais problemas. A queda do número de atendimentos de 2009 até hoje é um retrato do caos", afirmou.