CFO Esclarece: Baixos índices de QI não têm relação com a fluoretação das águas

O uso do flúor no abastecimento público é seguro para o desenvolvimento neurológico e a saúde em geral; estudos continuam a demonstrar sua efetividade na prevenção da cárie dentária
O ano de 2025 começou envolto em uma enorme polêmica sobre o uso do flúor nas águas de abastecimento público. Logo no início de janeiro, uma revisão publicada no Journal of the American Medical Association (JAMA) Pediatrics, relacionou altos níveis de flúor a baixos índices de QI em crianças. A publicação gerou inúmeras notícias falsas, em tom alarmista e equivocado, criticando a fluoretação. Porém, o Conselho Federal de Odontologia esclarece: não há evidências científicas que indiquem qualquer risco potencial na fluoretação das águas para a saúde humana; pelo contrário, ela é um importante instrumento público de combate à cárie dentária.
Desde a publicação do JAMA, o Conselho Federal de Odontologia tem acompanhado notícias publicadas no Brasil a respeito do estudo e observou, na grande maioria delas, informações incorretas a respeito da segurança da fluoretação. Para desmistificar o tema e combater as fake news, o CFO esclarece que o uso do flúor é alvo de importantes estudos no Brasil e no mundo, sendo que a suposta associação entre flúor da água de abastecimento público e menor QI foi descartada por estudos longitudinais feitos subsequentemente. Portanto, a fluoretação das águas de abastecimento público, dentro dos padrões previstos na legislação brasileira e indicados pela Organização Mundial de Saúde (OMS), é segurapara o neurodesenvolvimento infantil e para a saúde pública em geral.
É importante destacar que o estudo publicado peloJAMA Pediatrics não fornece comprovaçõescientíficas de que o fluoreto seja a causa da diminuição do QI nas crianças e jovens avaliados, uma vez que os resultados foram baseados, em grande parte, em estudos transversais, que não geram evidências de relação causa-efeito. Ou seja, o menor QI pode ser decorrente de outros fatores, conhecidos como confundidores, que não foram analisados. Além disso, a grande maioria dos trabalhos foi considerada pelos próprios autores como de "baixa qualidade" científica para gerar evidências.
Complementarmente, deve-se observar que, nestes trabalhos, a exposição ao flúor foi indiretamente estimada pela concentração de fluoreto na água ou pela excreção urinária de fluoreto. Porém, deve-se observar que a concentração de fluoreto na água do presente não reflete a exposição ao fluoreto no passado. Além disso, a excreção urinária de flúor é um desfecho secundário limitado para estabelecer uma relação causa-efeito, especialmente quando amostras pontuais são coletadas para análise.
Importante destacar ainda que a publicação avaliou um cenário diferente da realidade brasileira em geral, sendo que a possível relação entre flúor e baixo QI foi encontrada em crianças e jovens expostos a altos níveis de fluoreto, geralmente vivendo em áreas endêmicas para fluorose dentária, onde os recursos hídricos são escassos e as condições socioeconômicas são extremamente desfavoráveis. Portanto, a utilização do estudo do JAMA para embasamento de ataques à fluoretação das águas é incorreta, configurando-se notícia falsa.
Fluoretação é segura e efetiva
No Brasil, a Lei 6.050/74 obriga a fluoretação nos municípios onde houver estação de tratamento de água, tendo essa obrigatoriedade sido confirmada pela Lei 14.572, que sancionada em 2023 e instituiu a Política Nacional de Saúde Buca. Hoje em dia, com uso do dentifrício fluoretado, o poder preventivo da fluoretação da água diminuiu, mas mesmo com essa diminuição, ela faz muita diferença.
Um estudo realizado pela UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina) e publicado no Journal of Dental Research mostrou que adultos que se beneficiaram da medida 75% ou mais do seu tempo de vida, tiveram 39% menos cárie comparado aqueles que estiveram expostos a fluoretação menos de 50% do seu tempo de vida.
Além disso, uma revisão sistemática da Faculdade de Saúde Pública da USP, publicada no International Journal of Paediatric Dentistry, comparou estudos com crianças e adolescentes vivendo em cidades brasileiras, de nível socioeconômico similar, mostrou valores de cárie inferiores nas cidades fluoretadas. A prevalência de cárie foi 1,4 vezes menor na dentição temporária e 57% menor na dentição permanente.
Desta forma, a revisão publicada no JAMA não afeta o conhecimento que se tem sobre a segurança e a efetividade do ajuste da concentração de fluoreto para fins de prevenção da cárie dentária. A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda índices entre 0,5 a 1,0 mgF/L, enquanto no Brasil, os especialistas recomendam valores em torno de 0,7 mgF/L para a fluoretação das águas de abastecimento público.
Ambos são valores seguros para proteger a dentição contra a cárie dentária, uma doença que atinge a dentição permanente de mais de 52 milhões de brasileiros e afeta a dentição temporária de mais de 13,5 milhões de crianças em nosso país.
*Combate às fake News*
O Programa CFO Esclarece foi criado pelo Conselho Federal de Odontologia com objetivo de levar orientação e informação à população e aos mais de 770 mil inscritos junto à autarquia. O presidente do Conselho Federal de Odontologia, Claudio Miyake, relembra que o uso de fluoretos nas águas de abastecimento público é alvo de ataques e notícias falsas desde meados do século passado, quando foram iniciadas as políticas públicas de fluoretação no Brasil e no mundo.
“Precisamos nos manter alertas para que o assunto seja esclarecido quantas vezes forem necessárias. A cárie é uma das doenças crônicas de maior incidência entre a população e a fluoretação foi um avanço importante para a sua prevenção. Não é razoável que a disseminação de notícias falsas possa colocar em risco a credibilidade desse instrumento público de Saúde Bucal e o Conselho Federal de Odontologia, por meio do Programa CFO Esclarece, está pronto para contribuir no combate às Fake News”, pontua o presidente Claudio Miyake.
As informações para construção do presente conteúdo foram levantadas a partir do apoio técnico-científico dos cirurgiões-dentistas Jaime Cury, professor emérito da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) e pós-doutorado em Cariologia em 1995 e 2005 pela University of Rochester (EUA); e Paulo Frazão, professor titular do Departamento de Política, Gestão e Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP e doutor em Saúde Pública.